Alterações na configuração das famílias refletem mudanças sociais profundas e inéditas no país
Os dados recentemente divulgados pelo Censo Demográfico de 2022 trouxeram à tona um panorama renovado sobre as estruturas familiares no Brasil. Com o objetivo de traçar um perfil mais detalhado das relações e configurações dos domicílios brasileiros, o estudo investigou tanto a relação de parentesco dos moradores com o responsável pela unidade doméstica quanto aspectos demográficos, como a distribuição por faixa etária e cor ou raça. O levantamento revelou transformações significativas, que refletem mudanças culturais, econômicas e sociais em curso no país.
Um dos destaques é o aumento expressivo nas unidades unipessoais, que passaram de 12,2% em 2010 para 18,9% em 2022, refletindo um número cada vez maior de pessoas que vivem sozinhas. Esse crescimento pode estar ligado ao envelhecimento populacional e a novas formas de organização social e familiar, nas quais a independência e a autonomia têm papel preponderante.
Pela primeira vez, de forma oficial, pessoas pardas figuraram como maioria entre os responsáveis pelas unidades domésticas. Em 2022, 43,8% das unidades tinham uma pessoa parda como responsável, enquanto as pessoas brancas eram responsáveis por uma menor parcela. Esse dado sinaliza uma reconfiguração demográfica e racial nas chefias familiares, com uma representação maior de pardos e pretos na liderança dos lares brasileiros, reflexo de mudanças sociais e econômicas.
Além disso, a média de moradores por unidade doméstica no Brasil também apresentou uma queda expressiva, passando de 3,3 em 2010 para 2,8 em 2022. Esse dado acompanha o aumento das unidades familiares com menos pessoas e destaca a transição para uma sociedade com domicílios menores, muitas vezes refletindo novas prioridades e estilos de vida.
A responsabilidade das unidades domésticas no Brasil concentra-se em pessoas com mais idade: cerca de 67% dos responsáveis tinham 40 anos ou mais em 2022, um aumento em relação aos 62,4% registrados em 2010. Isso reflete tanto o envelhecimento populacional quanto a continuidade das responsabilidades domésticas em pessoas mais velhas, que, cada vez mais, constituem a base das estruturas familiares no país.
O Censo 2022 também indicou uma mudança na configuração tradicional de famílias com filhos. A proporção de unidades formadas por casal com filho de ambos recuou de 41,3% em 2010 para 30,7% em 2022, enquanto os casais sem filhos aumentaram de 16,1% para 20,2% no mesmo período. Esse dado sugere que as famílias brasileiras estão se tornando mais diversas em sua composição, com uma queda na taxa de famílias com filhos e uma expansão de outros tipos de núcleos familiares.
Outro ponto relevante do estudo foi a análise dos óbitos masculinos, especialmente entre homens jovens de 15 a 34 anos, onde o número de óbitos foi significativamente maior do que entre mulheres na mesma faixa etária. No grupo de 20 a 24 anos, o índice de sobremortalidade masculina foi de 371 óbitos para cada 100 femininos, uma diferença que se deve, em grande parte, a causas externas, como acidentes e violência, que afetam majoritariamente homens jovens no Brasil.
Essas transformações na estrutura familiar brasileira evidenciam tendências que ajudam a compreender os impactos sociais, econômicos e culturais no cotidiano do país. Com novos arranjos, alterações nos papéis tradicionais e mudanças nas dinâmicas de convivência, o Brasil reflete um período de transição que abre espaço para a diversidade e aponta para um cenário em constante evolução.
Danilo Costa é Diretor Executivo do Grupo Cultural AfroReggae; analista de sistemas por formação, especialista em Gestão do Sistema Único de Assistência Social, com MBA em Administração de Empresas pela FGV. Com ampla experiência no terceiro setor e na administração pública, atuou na Prefeitura de Nova Iguaçu, no Senado Federal e nos Governos de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás, por meio da Unesco.