Sudeste teve bom desempenho e mantém liderança, mas perdeu participação nas últimas décadas.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil totalizou R$ 10,1 trilhões em 2022, com um crescimento de 3,0% em volume em comparação a 2021, de acordo com o IBGE. O resultado reflete a recuperação econômica do país, impulsionada principalmente pelo consumo das famílias, que representou 61,4% do PIB e contribuiu com 2,1 pontos percentuais para o crescimento total. Das 27 unidades da federação, 24 registraram alta no PIB, sinalizando uma retomada ampla, embora desigual, entre as regiões brasileiras.
O setor de Serviços foi o principal destaque, registrando uma alta de 4,3%. Atividades como Transportes e Outros Serviços, que incluem serviços pessoais e profissionais, apresentaram bom desempenho. No entanto, esses segmentos tendem a gerar empregos de baixa remuneração e alta informalidade, o que limita o impacto positivo sobre o padrão de vida dos trabalhadores.
A Indústria cresceu 1,5%, um resultado positivo para um país que há anos enfrenta o processo de desindustrialização. O crescimento foi liderado pelas Indústrias de Transformação, sinalizando uma recuperação gradual. Por outro lado, a Agropecuária, que vinha sendo um dos setores de maior crescimento, recuou 1,1%, afetada por problemas climáticos e pela volatilidade dos preços internacionais das commodities.
No contexto regional, o Sudeste apresentou sinais de recuperação entre 2021 e 2022, aumentando sua participação no PIB em 1,0 ponto percentual e alcançando 53,3%. No entanto, a análise de longo prazo aponta para uma mudança estrutural significativa: o Sudeste, que historicamente foi o motor econômico do Brasil, foi a única região a perder participação expressiva no PIB nas últimas duas décadas.
A participação do Sudeste caiu de 57,4% em 2002 para 53,3% em 2022, uma redução acumulada de 4,1 pontos percentuais. São Paulo teve a maior perda, com uma queda de 3,8 pontos, seguido pelo Rio de Janeiro, que registrou uma redução de 0,9 pontos. Em contraste, as regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram os maiores ganhos, impulsionadas pelo crescimento do agronegócio, refletindo uma mudança na dinâmica de crescimento econômico.
O PIB per capita em 2022 foi de R$ 47.802,02, evidenciando disparidades regionais significativas. O Sudeste e o Sul mantiveram os maiores valores per capita, enquanto o Centro-Oeste apresentou desempenho desigual, fortemente influenciado pelo Distrito Federal. As regiões Norte e Nordeste registraram os menores PIBs per capita, destacando as desigualdades regionais persistentes.
Os dados apontam para uma desconcentração do PIB, com crescimento nas regiões Norte e Centro-Oeste impulsionado pelo agronegócio. No entanto, esse aumento de participação não está sustentado por uma diversificação econômica robusta que possa garantir desenvolvimento a longo prazo. O crescimento da Indústria, embora positivo, ainda é insuficiente para reverter o processo de desindustrialização. Investimentos em tecnologia, produtividade e inovação são fundamentais para fortalecer a competitividade do setor industrial.
Embora o crescimento econômico de 2022 demonstre sinais de recuperação, ele não se traduz necessariamente em uma melhoria significativa no padrão de vida da população. Setores que geram empregos de baixa remuneração e alta informalidade continuam liderando o crescimento, limitando os avanços sociais. Além disso, o IBGE está reformulando o Sistema de Contas Nacionais, com a atualização do ano base de 2010 para 2021. Revisões futuras poderão trazer ajustes importantes, proporcionando uma análise mais precisa da evolução econômica do Brasil.
Danilo Costa é Diretor Executivo do Grupo Cultural AfroReggae, analista de sistemas e especialista em Gestão do Sistema Único de Assistência Social, com MBA em Administração de Empresas pela FGV. Atuou na Prefeitura de Nova Iguaçu, no Senado Federal e nos governos de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás, por meio da Unesco.